Escolas

A greve também ensina

Apesar de atrasarem o ensino dos conteúdos tradicionais, ocupações serviram para alunas aprimorarem visão de mundo

Carlos Queiroz -

As greves escolares em geral são consideradas prejudiciais, afinal, um processo de aprendizado é interrompido. Os alunos perdem o ritmo e podem vir a esquecer os ensinamentos. Porém, 2016 foi um ano atípico. Depois da greve dos professores estaduais que durou 53 dias, a mais longa dos últimos 25 anos, a 5ª Coordenadoria Estadual de Educação começa a fazer um levantamento positivo quanto ao movimento de ocupação das escolas. Diferentemente de outros anos, nem tudo é prejuízo. A pequena parcela de estudantes envolvidos no movimento de luta por melhorias terá uma missão: a partir desta segunda-feira, quando os 48 mil estudantes em nossa região retornam às salas de aula, os participantes terão que repassar aos demais às lições de cidadania e democracia tiradas do processo. Para esses alunos, os quase dois meses não foram ociosos em casa, e sim de aprendizado.

Normalmente os estudantes mais prejudicados com os atrasos no calendário escolar são os do 3° ano do Ensino Médio, na reta final e com data marcada para os vestibulares. Entretanto, Bruna Janke, 17, e Jéssica Amorim, 18, ambas estudantes do 3° ano do Instituto Assis Brasil, pensam diferente. Durante as ocupações elas participaram de oficinas de História, Sociologia, Moda, Filosofia e até de Medicina e tiveram a certeza de estarem no rumo certo. Jéssica sonha em ingressar na Pedagogia, já Bruna quer cursar Geografia. De acordo com Bruna, ela viu muitos dos seus colegas escolher suas futuras profissões através dessas oficinas. "Uma aula prática e com participação dos alunos é muito mais estimulante e proveitosa do que uma aula teórica, aprendi muito com as palestras", relata Jéssica.

Durante o período de ocupações, as duas ouviram que a movimentação não levaria a nada, outros chegaram a questionar se os alunos que dormiam nas escolas depredavam o prédio público. Comentários que foram anulados com as campanhas de limpeza e também pela negociação com o governo estadual, que atendeu grande parte das reivindicações dos alunos.

Segundo a diretora pedagógica da 5ª CRE, Marcia Tillmann, os efeitos positivos já podem ser sentidos. Os alunos que participaram do movimento estão mais ativos quanto à gestão da escola, preocupados com o futuro da educação pública.

No vestibular
Tanto Jéssica quanto Bruna não estão realizando curso preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), principal porta de entrada para as universidades, e nem pretendem. Para elas, os alunos que estivessem interessados em estudar durante o período de greve poderiam fazer isso. No Assis Brasil, por exemplo, a biblioteca esteve todo tempo aberta. Além dos debates, os alunos poderiam recorrer a ferramentas preparatórias na internet, relata Bruna.

Já quanto à recuperação do calendário escolar, que possivelmente se estenda a janeiro, elas relatam não estar preocupadas. Caso percam um semestre por falta de entrega do histórico escolar - documento essencial na matrícula nas universidades -, elas estariam satisfeitas pelas conquistas quanto pessoas e com a sociedade.

Universidades em Pelotas
- Universidade Federal de Pelotas: de acordo com a assessoria de impressa, até o momento nada foi discutido quanto ao ingresso desses alunos. Nas próximas semanas a Pró-Reitoria de Graduação (PRG) deverá debater as possibilidades relacionadas à entrega posterior de documentos. A principal porta de entrada para a UFPel é através do (Sisu), onde é usada a nota do Enem, e depois pela modalidade Pave.

- Universidade Católica de Pelotas: segundo a assessoria de imprensa, a data do vestibular de verão ainda não foi definida. E ainda nada foi pensado quanto à entrada desses alunos.

- Faculdade Anhanguera: a assessoria de imprensa informa que a universidade aceitará o histórico escolar entregue posterior à data programada, desde que o aluno traga um documento da escola explicando o ocorrido. A data do vestibular de verão também não foi definida.

Em movimento reverso. Em outros anos de greve, muitos pais cogitavam transferir os filhos da escola pública para a privada. Este ano, das quatro escolas ouvidas pelo Diário Popular - Escola Santa Mônica, São Francisco de Assis, Érico Veríssimo e Mario Quintana - o movimento de interessados foi menor ou igual a outros anos, mesmo com a greve mais longa. As instituições atribuem essa baixa transferência à crise econômica.

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